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O lado amargo da doçura


Aquele 08 de dezembro de 2010, aquele meu aniversário que não tem como esquecer, aquele dia em que eu entrei no consultório médico alguns quilos mais magra, já sabendo do que poderia acontecer e me recusando a acreditar, (deixei minha mãe louca quando disse que não aceitaria o tratamento), e sai com um diagnóstico que vou carregar pra vida toda (ou até finalmente acharem a cura!), um glicosímetro, duas canetas de insulina e um choro desenfreado.

Aquele dia em que a família toda levou um susto, ninguém sabia o que fazer com o bolo (ah, aquele bolo!), minhas amigas não sabiam o que dizer, eu tomei o maior baile da vida pra conseguir medir a glicemia (já sou atrapalhada por natureza, o medidor não colaborava e confesso que eu não parava de pensar naquele bolo que ninguém me deixava comer!!)

Tive muuuuuuitas crises de rebeldia, uma vontade imensa de jogar tudo pro alto e atacar a geladeira, comer todos os doces como se não houvesse amanhã, sumir com aquelas canetas malditas que me obrigavam a carregar comigo pra onde eu fosse, meu mal humor ficou um pouquinho pior do que o habitual (e achavam que isso era difícil de acontecer), briguei com o mundo e comigo mesma, me odiava e me perguntava porque raios aquilo tinha que acontecer justo comigo (e não, diabetes não aparece só porque você comeu açúcar demais, por favor!!). Fora as vezes em que media a glicemia e todos me olhavam como se eu viesse de outro mundo.

De lá até aqui foram vários furinhos nos dedos, várias injeções (sim, elas DOEM, mas assim como escovamos os dentes, tomamos banho e fazemos diversas outras coisas isso tudo se torna parte da rotina). Aquela rotina chata que te deixa preocupada boa parte do tempo, que te obriga a ser organizada (é, eu sou meio bagunceira). Aquele medo ainda que meio inconsciente de fazer algo errado e provocar alguma complicação, aquela montanha russa de glicemias e humores baseados nelas, a impressão de que ninguém te entende. Aquela briga diária com aquela solitária que tem dentro de você e que implora por um brigadeiro. A dependência de uma “droga”, (a única usada pra que as pessoas evitem ficar “altas demais”, ao contrário das outras) e a chatice que as vezes é ser diferente. Além toda aquela coisa de “mas você é diabética, pode comer isso?”, “mas e se você passa mal?”, “pegou a insulina? o medidor? tá com tudo ai?”, alguns olhando meio torto, outros com cara de dó. Muitas hipoglicemias que não passavam, me fazendo comer todo e qualquer doce que eu visse na frente seguidas de hiperglicemias por conta do exagero.

Mas aos poucos fui aprendendo a lidar com a situação até perceber que EU tenho diabetes, e não o contrário! Afinal de contas ter um pâncreas funcionado é mainstream demais e eu não tenho culpa de ser um doce (de limão, mas um doce)!

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